Ancestralidade, atitude e resistência em Roraima; saberes tradicionais da Comunidade Tabalascada
- enecom roraima
- 18 de set. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 15 de out. de 2019
Conheça a história de Arlete Silva e saiba um pouco mais sobre I eixo do Enecom- RR

Uma Terra Indígena cujo processo de regularização fundiária se iniciou em 1977 e teve homologação em 2001. A Comunidade Tabalascada, localizada no município do Cantá, ao Norte de Roraima, é onde Arlete da Silva Pereira, 42 anos e outras 680 pessoas residem, segundo o Senso de 2014.
Mas quem é esta mulher de olhar calmo e destemido que vive aqui? Ela definitivamente não é alguém comum. Em entrevista à reportagem, a moradora conta a própria trajetória e mostra um pouco sobre o senso crítico que tem sobre o mundo.
Há 26,8 km da capital Boa Vista, o percurso para chegar até a região leva em torno de 27 minutos. A área possui 13.014 hectares de terras e seu perímetro é de 50 Km, conforme a Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Visitamos a Arlete pela primeira vez, e ainda intrigada ela relata timidamente que nasceu e se criou no lugar.
“Eu sou índia ‘misturada’, meu avô veio do baixo Rio Negro em Manaus, ele é descendente
de Portugueses”, afirmou com timidez ao se apresentar.
Para Arlete, as primeiras lembranças são da família mudando-se para a casa onde reside, na década de 70. Ainda muito nova, ela conheceu os costumes e saberes de todo um povo. Tudo começou no ‘pé da serra’, relembrou a mulher.
“ Sempre morei na mata com a minha família. A casa do meu pai queimou duas vezes por ficar muito perto da roça e aí ele decidiu vir para cá pro ‘lavrado’ onde vivemos hoje. Mudamos para cá por causa da energia elétrica e da distância. Mas até os 12 anos. Eu precisei estudar no Cantá também, era uma estrada de piçarra muito diferente do que é hoje”, contou.
Ancestralidade, atitude, fé e resistência auxiliam Arlete a acreditar no futuro da comunidade. Aos 30 anos, virou mãe, e decidiu enfrentar a vida na cidade. Atualmente ela cursa pedagogia em uma faculdade na capital.
“Foi um pouco difícil, porque a gente tem que deixar a família e morar com estranhos, hoje eu curso pedagogia. Pensei que não ia alcançar, mas foi uma grande conquista. Estou no terceiro ano e é um desafio para nós indígenas”.
Segundo ela, o preconceito é muito presente no cotidiano dos indígenas.
“ Por sermos indígenas não somo aceitos nos lugares. Lá mesmo na faculdade, eles dizem ‘hoje a comunidade tá cheia de índios’ com deboche.
Arlete explica que a comunidade mudou, com novas tecnologias, hoje tudo pode ser feito pelo whatsapp. Destemida, ela enfrenta as opniões e conceitos destorcidos de quem não conhece a realidade em Tabalascada.
“ Faço meus trabalhos pelo whatsapp, leio o que acontece na capital e no mundo. Eles pensam que não somos civilizados, mas nós somos atualizados”.
A facilidade de transporte público, com linhas de ônibus que diariamente circulam até o Cantá, passando pela comunidade, fez com que muitos índios optassem por morar em Tabalascada, assim como Arlete e a família. Isso facilitou que trabalhassem ou estudarem durante o dia em Boa Vista e voltassem à noite.
SOBRE A COMUNIDADE
Conhecida pelo Festival do Beiju e diversas apresentações culturais dos indígenas da etnia Wapichana, este povo procura afirmar a identidade e costumes.Mas há também algumas famílias Macuxi residentes ali.
É uma comunidade próxima da capital de Roraima, Boa Vista, por via terrestre pela BR 432. A origem do nome Tabalascada é uma incógnita. Segundo os antropólogos, duas hipóteses são as mais prováveis originárias do nome: A primeira é de um de um homem que havia retirado uma determinada madeira (baskary) para construir uma canoa. No tempo que levou para tomar um carro de boi para transportar essa madeira, essa rachou, levando esse homem a denominar o lugar de “Tábua Lascada”.
A outra hipótese é de que ao colocar tábuas para facilitar a passagem de carros de boi por áreas alagadiças, essas findavam por se lascarem em virtude do peso.Conforme levantamentos antropológicos, a ocupação da região hoje conhecida como Tabalascada se deu por volta do ano de 1905, mas somente entre 1930/5 foi que um povoamento começou a se consolidar como maloca.
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